Há uma história de que o brasileiro tem como sonho pessoal e profissional ser dono do seu próprio negócio. Acredito que eu seja um desses muitos brasileiros, mas não pela motivação habitual que ouço, como ter autonomia de decisão, liberdade de horário e ganhos diretamente associados ao desempenho no trabalho. Talvez esse último me motive, porque, a não ser quando fui estagiário e advogado associado de um escritório, todas as demais atividades que exerci na minha carreira profissional sempre estiveram interligadas com percentuais de participação, seja como vendedor que fui durante 8 anos ou hoje como advogado, há 7 anos.
Torna-se empresário para gozar de mais liberdade é a maior ilusão que alguém pode ter. Quando eu era vendedor, um cliente, dono de um bar, costuma dizer que ser pequeno empresário era semelhante a estar em um presídio, só que com as portar abertas. Guardadas as devidas proporções com a comparação, o dono do bar queria dizer que dia de sol, chuva, febre ou saúde ele, por ser um pequeno comércio, teria que estar lá, de portas abertas ao cliente, pois se não estivesse lá não teria ganhos. E pior que não ter ganho (lucro) é ter prejuízo, porque sem faturamento não quita os próprios fornecedores.
Em oito anos de vendas vi vários pequenos comércios fecharem, dos mais variados segmentos. Trabalhei com diversas linhas de produtos, como alimentos, bazar, papelaria, utilidades e assim vai. Costumo dizer que já vendi de tudo, só não vendi minha mãe porque não teria reposição. Embora não amasse vendas, gostava do que fazia. E eu era bom nisso. Tenho algumas boas histórias para contar, que ilustraria isso, mas uma demonstra a vontade de vencer, igual à que tenho hoje na advocacia. Numa das muitas empresas que representei foi lançada uma campanha de vendas das pilhas Panasonic. O prémio era uma Televisão (não lembro as polegadas) para o primeiro lugar, uma câmera digital para o segundo lugar e uma Televisão menor para o terceiro lugar. A câmera era meu sonho de consumo. Na época ainda não tinham os smartfones com câmera que temos hoje. Ah, esqueci de falar, a campanha era nacional e eu não era nem de perto o vendedor com maior faturamento da empresa. Mas adoro uma competição. Vendi pilha até dizer chega. Vendi muita, mas muita pilha, ao ponto de alguns amigos de empresa, que faziam setores (regiões) próximos ao meu, sequer conseguiam chegar perto nos números que atingi. Fiquei em segundo lugar, exatamente onde eu queria estar. A premiação foi durante uma convenção, com direito a palco e entrega do prêmio na frente de centenas de vendedores da empresa. Foi um momento incrível. Mas por que eu comecei a falar isso mesmo? Ah… lembrei! Nesse tempo de vendas vi muitos comércios fecharem. Inclusive levei alguns calotes. O triste é que, com exceção de um ou outro mal intencionado, que deu o golpe de fato, os empresários que conheci eram pessoas extremamente trabalhadoras, mas por desconhecimento de gestão de pessoas, marketing e finanças não tiveram chances com as adversidades do mercado e do desconhecimento.
O sonho brasileiro de sucesso é na verdade um gradíssimo caminho de muitas pedras, sendo que algumas você pode e deve retirar da sua jornada, mas outras deverão ser desviadas. Resiliência (palavra tão na moda) certamente é uma virtude que todo empresário deve ter.
Tirando aqueles negócios que fecharam propositalmente ou as empresas que quebraram por fatores do mercado, o empresário que estatisticamente fecha em cinco anos (pesquisa no Google para você ver a quantidade) normalmente é por falta de conhecimento técnico. Infelizmente ainda há a crença de que um negócio pode ser administrativo intuitivamente. Pera lá! Até mesmo grandes nomes do empresariado de hoje, como Silvio Santos e Samuel Klein, que começaram bem de baixo e se tornaram potencias, estudaram e contrataram pessoas competentes para lhes ajudarem a crescer. No começo, naturalmente, o recurso é escasso, então você provavelmente terá que acumular diversos papéis, como Gestor financeiro, de marketing e/ou de pessoas, mas com o passar do tempo e com mais recursos poderá contratar uma boa equipe para lhe ajudar. E não seja leigo em achar que time que está ganhando não se mexe, porque ao contrário do futebol, o mercado está se mexendo o tempo todo, a Kodak que o diga.