Entrevista concedida ao Jornal Local “A Folha Santista” sobre a condição dos tripulantes a bordo

A entrevista se deu logo no início da notícia que um navio estava atracado na costa brasileira contendo diversos tripulantes, dentre eles trabalhadores brasileiros.

Havia, naquele momento, um misto de preocupação entre as imposições das Companhias no desembarque dos trabalhados, obrigando a formalizar renuncias sem nenhuma garantia de retorno, bem como eventual contágio. Poucos dias depois dessa entrevista ficou constado casos internos de contágio pelo coronavírus, ampliando ainda mais o temor e insegurança dos tripulantes.

Como os tripulantes estão sendo tratados durante esse período? O advogado Adriano Ialongo, especialista em causas de Direito dos Tripulantes na Justiça do Trabalho, disse que recebeu diversas mensagens de tripulantes de companhias distintas, informando que estão pressionando os seus empregados a renunciar aos pagamentos que são devidos.

“Vários tripulantes afirmam que estão sendo levados a renunciar a tudo o que teriam para receber em troca de uma “compensação futura”. Estão sendo obrigados a assinar uma notificação de repatriação, com “garantia” de que em alguns meses voltarão ao navio para “terminar o contrato”, quando receberão o que lhes é devido”.

Ialongo lembrou que a Costa Cruzeiros ofereceu duas alternativas aos seus colaboradores: ou terminam o contrato como se uma pandemia não estivesse acontecendo ou desembarcam sem terem que pagar para a companhia a quebra de contrato, que é como uma “penalidade” (quando o tripulante desembarca antecipadamente, em situações normais, é descontado do ganho dele um valor a título de penalidade; dependendo da companhia é o valor das passagens).

“O que a companhia esqueceu é que não está ocorrendo uma simples quebra de contrato; os tripulantes estão apavorados; querem ir para as suas casas até tudo isso passar. Na época em que o navio passou por problemas com o sarampo, aos tripulantes que estavam com suspeita, foi oferecido apenas o confinamento na cabine, até que houvesse a confirmação; agora muda a doença, mas o comportamento se repete”, disse.

O advogado garante ter recebido áudios onde os tripulantes são avisados que só desembarcam assinando “sign off”, ou seja, sem sequer a passagem paga.”Além das companhias obrigarem a tripulação a renunciar valores que deveriam ser pagos minimamente, isso seguindo apenas o critério do próprio contrato deles, que seria uma indenização de dois meses de salário e a passagem de volta, eles ainda estão desembarcando os seus tripulantes longe das cidades que moram e pedindo para que peguem um Uber até as suas casas e que no próximo reembarque eles os reembolsarão (isso apenas apalavrado, sem contrato)”.

De acordo com o advogado, alguns tripulantes assinaram essa carta de desembarque por medo; medo de serem obrigados a permanecer no navio nessa crise, de não serem recontratados; e pelas contas que ainda têm a pagar. “Os últimos foram desembarcados em Santos, sendo que alguns tripulantes conseguiram voos para as suas Regiões, mas outros não. A companhia não deu nenhum suporte, sendo que o hotel na Cidade só foi possível graças ao suporte do Porto, possibilitando aos tripulantes o retorno para suas cidades no dia seguinte”.

“Além da falta de suporte, muitos acreditam que podem ser reembolsados quando tudo isso passar, mas, na nossa opinião, é muito provável que isso não vá acontecer, já que há dez anos acompanhamos essas questões e, como modo padrão, as companhias não dão suporte. A vida a bordo é “maravilhosa”, até o trabalhador precisar de algum suporte da Companhia em qualquer necessidade”, reclamou.

Leia a notícia na integra aqui:

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